“PaPeLê – uma aventura de Papel” é o mais novo espetáculo para crianças da Téspis Cia. de Teatro, produzido com recursos da lei municipal de incentivo à cultura, com patrocínio da Prefeitura de Itajaí, Fundação Cultural de Itajaí e renúncia fiscal da UNIMED Litoral.
O espetáculo é um grande jogo que tem como tema e matéria prima o “papel”, sendo ele no sentido concreto ou no sentido figurado. Desde o início da pesquisa para sua montagem, os participantes buscaram ter contato com várias e diferentes linguagens do teatro de animação, desde as mais tradicionais como a manipulação direta, máscaras e teatro de objetos, até a interação com projeções pré gravadas e também em captação em tempo real.
O elenco é formado por Denise da Luz, Mathý Groszewica e Sabrina Francez. Também participaram do processo de construção do espetáculo Leonam Nagel – criador das animações em vídeo; Hedra Rockenbach – compositora da trilha sonora original e Max Reinert – diretor e organizador da dramaturgia, criada em processo colaborativo com os demais participantes.
O processo de trabalho de construção do espetáculo atravessou a pandemia de covid-19 e, obviamente, foi afetado por isso. Durante bastante tempo os participantes trabalharam sozinhos em suas casas, buscando informações teóricas sobre as técnicas e descobrindo possibilidades de confecção de bonecos simples com elementos do cotidiano de cada um.
Este processo está registrado no Diário de Criação e rendeu duas cenas curtas que participaram de distintos eventos durante o ano de 2020.
Dessa forma, o ato de “brincar” com a construção de personagens foi incorporado à dramaturgia do espetáculo e as relações de fazer / desfazer, construir / reconstruir, tornar-se e transformar-se em distintos papéis acabaram por se definir como nosso elemento principal na relação com o espectador. Abandonamos a necessidade de construir uma história tradicional e nos jogamos no prazer do jogo lúdico, característica marcante em nosso público-alvo, que são crianças a partir de 03 anos de idade.
Papelê – uma aventura de papel estreou virtualmente no canal de Youtube da companhia, no dia 05 de junho de 2021.
Participou dos seguintes eventos online:
* Selecionado para o Festival FUNARTE de Teatro Virtual 2020 (um dos 25 premiados entre mais de 500 inscritos de todo o Brasil);
* Selecionado para o Festival Nacional de Teatro de Ipatinga – ano III, em Ipatinga, MG, em agosto de 2021;
* Selecionado para o XIV Festival Velha Joana, em Primavera do Leste, MT, em agosto de 2021;
* Selecionado para o Encontro de Teatro Popular “El Ticús-Ananga, em Colima, México, em setembro de 2021;
* Selecionado para o Festival Nacional de Teatro de Viçosa, em Viçosa, MG, em novembro de 2021.
Estreou presencialmente no dia 31 de outubro de 2021, no Teatro Municipal de Itajaí.
Participou dos seguintes eventos presenciais:
* Convidado para o Cena Itajaí #OTeatroDaqui, em Itajaí, SC, em outubro de 2021;
* Convidado para o Rede SESC de Teatros, em Itajaí, SC, em novembro de 2021;
* Selecionado para o 4º FESTENECO – Festival de Teatro de Bonecos de Joinville, no Teatro Juarez Machado, em abril de 2022;
* Selecionado para o 5º Festinfante – Festival de Arte Integradas para Infância, em Itajaí, SC, em junho de 2022;
* Convidado para o Rede SESC de Teatros, em Itajaí, SC, em julho de 2022;
* Convidado para o Festival Internacional de Teatro Universitário – Território Infância SESC, em Blumenau, SC, em julho de 2022;
* Selecionado para o Festival Brasileiro de Teatro Toni Cunha, em Itajaí, SC, em julho de 2022;
* Selecionado para o PESTA BONEKA – International Biennale Puppet Festival, em Yogyakarta – Indonésia, em outubro de 2022;
* Selecionado para o 50º FENATA – Festival Nacional de Teatro de Ponta Grossa, em Ponta Grossa, PR, em novembro de 2022 (prêmio de Melhor Espetáculo para Crianças e Melhor Trilha Sonora – indicação para Melhor Atriz, Melhor Direção e Melhor Cenografia);
* Selecionado para o 16º Festival Velha Joana, em Primavera do Leste, MT, em novembro de 2022;
* Selecionado para o 44º FESTE – Festival Nacional de Teatro de Pindamonhangaba, SP, em novembro de 2022;
* Convidado para a mostra GURITIBA do Festival de Teatro de Curitiba, PR, em abril de 2023;
* Selecionado para o Festival Internacional de Teatro de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, em abril de 2023;
* Selecionado para o Festival Téti – Temporada de Teatro em Família, em Caxias do Sul, RS, em maio de 2023.
*** Indicado para o prêmio de melhor espetáculo infanto-juvenil de 2021 no 16º Prêmio APTR – Associação dos Produtores Teatrais do Rio de Janeiro.
Ficha Técnica:
Dramaturgia de Max Reinert a partir de processo colaborativo de criação
Direção e iluminação: Max Reinert
Atuações: Denise da Luz, Mathý Groszewica e Sabrina Francez
Figurinos: Denise da Luz
Costuras: Lélia Machado de Melo e Maria Antunes
Ambientação sonora: Hedra Rockenback
Vídeos: Leonam Nagel
Cenários: Max Reinert e Denise da Luz
Cenotecnia: Jociel Escolástico Cunha e FerForgé
Criação e confecção dos bonecos de mesa e objetos de cena: Leonam Nagel, Mathý Groszewica, Max Reinert e Sabrina Francez
Criação das máscaras/figuras: Denise da Luz, Mathý Groszewica e Max Reinert
Confecção do livro PopUp: Sabrina Francez
Confecção da máscara da Úrsula Malvadinha: Cidval Batista
Designer gráfico: Daniel Olivetto
Assessoria de imprensa: Camila Gonçalves
Fotografia: Max Reinert
Gravado no Teatro Municipal de Itajaí
Produção: Téspis Cia de Teatro
Sinopse:
PaPeLê é um jogo onde cada criança pode criar a sua própria história. Utilizando-se do corpo, da música, de objetos, bonecos e projeções, a peça é uma grande brincadeira que parte de situações simples, do cotidiano, para transitar para um mundo de imaginação, onde cada um vai assumindo diversos personagens e situações. O papel é o material que vai se transformando e dando forma à narrativa conduzida pelas três figuras que interagem nesse universo lúdico e divertido do palco. PaPeLê te convida à aventura!
O que já se disse
[O Simples ato Infantil de Profanar]
por Heloísa Sousa
O espetáculo “Papelê – Uma Aventura de Papel” é uma das obras que compõe a programação do XIV Festival Velha Joana (MT). O espetáculo foi criado pela Téspis Cia. de Teatro, um dos grupos de teatro mais relevantes do cenário brasileiro, se considerarmos sua contínua atividade desde 1993, na cidade de Itajaí (SC). A companhia vem reunindo inúmeras obras em seu repertório que tem sido reconhecidas em textos críticos, dramaturgias publicadas, atividades pedagógicas e participações em importantes festivais. Em um país de dimensões continentais como o Brasil, onde a pesquisa e a documentação das práticas dos grupos de teatro ainda necessitam de maiores incentivos, assim como as possibilidades de circulação de obras e artistas pelas nossas regiões; não é uma surpresa que eu e outras pessoas interessadas no teatro brasileiro, desconheçam a existência de grupos como a Téspis Cia. de Teatro, mesmo que estes estejam atuando a quase trinta anos. Se considerarmos a dificuldade de circulação pelas regiões Norte e Nordeste do país, esses desconhecimentos tornam-se ainda mais graves e evidentes. Por isso, reitero a relevância dos festivais de teatro, como espaços de encontro entre públicos, artistas e pesquisas diversas.
Mais ainda, destaco também a importância dos festivais e eventos virtuais que utilizam de múltiplas plataformas e canais de streaming para exibir filmagens de espetáculos ou obras que acontecem online para públicos oriundo de diversos lugares do país em simultâneo. Se os festivais de teatro, em formato online, são estratégias que ganharam expressividade durante a pandemia; é importante que se compreenda que essas ações precisam existir para além desse contexto. A virtualidade pode ser percebida como espaço único de encontro, como uma forma de burlar as distâncias, alcançar outros públicos e suscitar o desejo pela presença. Não é coerente pensar na virtualidade como uma possibilidade que irá se sobrepor aos encontros presenciais, antes disso, torna-se um lugar que elabora a imaginação e cria vínculos que anseiam pelo encontro corpo a corpo.
É nesse próprio espaço da internet que artistas e grupos têm construído seus portfólios, onde acessando sites e redes sociais somos capazes de acompanhar trajetórias. Passei algumas horas imersa no site da Téspis Cia. de Teatro, conhecendo seus trabalhos, escritos, projetos e colaboradores, e destaco aqui uma iniciativa interessante do grupo em deixar disponível no site, a filmagem completa de espetáculos que não mais integram o seu repertório ativo. Quantas obras teatrais, com relevância histórica, não se perdem em registros arquivados em mídias não mais acessíveis.
Voltando a obra, “Papelê – Uma Aventura de Papel” é um espetáculo criado em 2021, no formato de teatro filmado e que se direciona ao público infantil. Em cena, duas atrizes e um ator se dividem em personagens que manipulam diversos objetos feitos de papel ou papelão, construindo brinquedos, narrativas, situações, imagens, figuras e outras possibilidades com essa materialidade simples e cotidiana.
A dramaturgia se constrói em um encadeamento de situações que se conectam pela própria materialidade, que na obra, acaba ganhando centralidade. As pequenas narrativas vivenciadas pelos atores e pelos bonecos manipulados não se concluem como histórias convencionais com início, meio e fim; ao invés disso, parecem estimular mais o próprio ato da imaginação e a elaboração de afetos e sensorialidades a partir das imagens postas. Os objetos são manipulados em cena com a mesma lógica das ações lúdicas evocadas pelas crianças ao deslocar o uso convencional do objeto para torná-lo quaisquer outras coisas que não aquilo ao qual foi destinado. O ato da imaginação cria paralelos entre formas, cores e linhas; e rapidamente, aliado à própria ação de experimentação, o corpo consegue trazer outros sentidos para aquele objeto. Isso é o que o filósofo italiano Giorgio Agamben chamaria de profanação, ao tentar comparar essa ação lúdica própria infância, como uma prática de usos não ortodoxos das materialidades e dos dispositivos, se pensarmos em outras camadas políticas.
Nesse sentido, a dramaturgia do espetáculo parece se debruçar mais sobre a lógica do jogo e da exploração dos objetos do que na construção de histórias ou dramaticidades. O papel que se torna boneco, capa, monstro, bola, bicho, entre inúmeras possibilidades que quando reposicionadas no espaço e no corpo fazem surgir situações diversas. A mobilidade da cenografia colabora com a transição dos corpos em cena entre diferentes estados de jogo, sendo ainda potencializados com recursos audiovisuais de projeções que remetem ao cinema ou aos videogames, que não deixam de fazer parte do campo de interações de uma criança na contemporaneidade.
Para além da criação de vestimentas, objetos, brinquedos e outras possibilidades com o papel e o papelão, outros recursos parecem recorrentes em peças infantis que assisti nos últimos cinco anos, como a utilização do audiovisual na expansão das possibilidades imagéticas da obra, a manipulação de bonecos trazendo sensibilidade aos formatos simples, o uso contínuo da musicalidade em detrimento do uso da voz falada para construção de narrativas. Alguns desses recursos podem ser observados em obras como “Simón, el Topo” do Teatro La Plaza (Peru) e “Abrazo” do grupo de teatro Clowns de Shakespeare (RN/Brasil), ambos com críticas publicadas neste site.
A obra da Téspis Cia. de Teatro nos põe diante de uma encenação muito articulada, mas que opera nessa sucessão de situações de exploração da materialidade que parece nunca concluir alguma narrativa. Se por um lado, isso pode causar certo estranhamento a alguns públicos, por outro, parece se aproximar bastante das práticas da infância, e essa sucessão de situações podem ser percebidas como sugestões contínuas de formas de brincar, representar e experimentar. É nesses momentos que sinto falta da presença física nos festivais de teatro e da oportunidade de conversar com alguma criança sobre a obra e alcançar outras recepções que desloquem minha própria experiência diante do espetáculo.
[E agora, vamos brincar de quê?]
Crítica de Diogo Spinelli para o Festival Brasileiro de Teatro Toni Cunha
Uma folha de papel em branco, prestes a ser preenchida com o que tudo o que nossa imaginação quiser.
Esse pode ter sido o ponto de partida para a criação de Papelê: uma aventura de papel, da Téspis Cia. de Teatro (Itajaí/SC), apresentado no 7º Festival Brasileiro de Teatro Toni Cunha. Tendo o papel como matéria-base a ser explorada e transformada, a obra se utiliza de inúmeras técnicas do teatro de formas animadas para criar pequenas narrativas, ou brincadeiras.
Partindo de uma lógica de jogo, no qual tudo pode virar outra coisa, o elenco se diverte manipulando, metamorfoseando e dando vida a variados tipos de papel ao longo da montagem: papel luminoso recortado em formato de confete, caixas de papelão, um rolo de papel kraft, sulfites desenhados, bonecos de papel machê que remetem a dobraduras, dentre outros.
A incessante renovação de situações e de materiais remete às crianças que, após terem explorado determinado jogo até terem encontrado seu limite de interesse, perguntam-se o tempo inteiro: e agora, vamos brincar de quê? A diferença é que em Papelê não há tempo para esse questionamento, já que, mesmo sem que exista a preocupação de gerar qualquer tipo de nexo causal, as situações se sucedem com tanta organicidade, que passamos de uma coisa à outra sem muitas vezes nem nos darmos conta. Há, nesse sentido, algo de onírico no espetáculo: se o teatro de formas animadas já possui a tendência de nos transportar para o reino do fantástico e da imaginação, a vertiginosa dinâmica estabelecida em Papelê parece reforçar ainda mais esse aspecto de sonho.
Interessante também notar como, apesar de possuir no papel como matéria-prima seu ponto de ancoramento, é possível expandir o significado de papel presente no trabalhopara aquele relativo ao jargão teatral, ou ainda para o sentido mais amplo de papel social. Ainda que o espetáculo inteiro possa ser lido sob essa chave – para além de sua vestimenta, o que faz com que reconheçamos um rei autoritário, ou uma heroína? – esse conceito de assumir diferentes papeis aparece com mais veemência em um dos momentos mais divertidos da montagem. Nesta cena, as atrizes estabelecem diversas relações entre si ao transformarem-se continuamente em distintos personagens através do simples ato de posicionar placas com diferentes figuras em frente aos seus rostos.
Aliás, essas placas/máscaras também são um elemento indicativo de outro trânsito que acontece no espetáculo: aquele entre os mundos analógico e digital. Tendo como inspiração a linguagem dos emojis, é surpreendente perceber como o grupo conseguiu atribuir potência cênica a esse elemento utilizado de forma tão banalizada em nosso cotidiano. Cabe dizer que a obra foi concebida em meio à pandemia de Covid-19, fator que certamente deve ter influenciado seu processo de criação no sentido de aproximar ainda mais a cena dos elementos do universo virtual. Outro exemplo disso é o uso das projeções, como na cena que remete aos jogos de videogames – que por sua vez, aparecem sobrepostos a referências à linguagem dos quadrinhos.
Da metade para o fim da peça, algumas das figuras que já apareceram em algum momento anterior da obra começam a reaparecer em rápidas inserções. Quando a primeira delas ressurge em cena, escuto uma criança atrás de mim comentar: “de novo, esse?”. Sorrio pensando sobre como, apesar da enorme variedade de situações, figuras e materiais presentes no trabalho, existe nas crianças uma inesgotável ânsia por novidades. Talvez, isso faça parte do nosso processo de conhecer o mundo: o que mais há para descobrir?
Após compartilhar com as e os espectadores uma porção de possibilidades lúdicas, ao final de Papelê o trabalho parece fazer um convite: “Essa foi a nossa brincadeira. Daqui em diante é com vocês: vão brincar de quê?”.
Necessidades Físicas
Palco Italiano
Caixa preta com as seguintes dimensões mínimas:
09 metros de largura, 06 metros de profundidade, 04 metros de altura
Iluminação
10 refletores PC 1000W, 20 refletores PAR LED 32W, 12 refletores Elipsoidais (com facas)
Sonorização
Mesa de som com entrada para notebook, caixas com potência adequada para o local.
Transporte
05 pessoas (03 [três] atores e 02 [dois] técnicos)
Cenários são transportados com o grupo, há um pequeno excesso de peso.